Com a mão cheia de sacolas, passo por uma loja de uma conhecida marca nacional de óculos de sol e relógios de pulso. Facilmente encontrado em quiosques e lojas próprias em diversos estabelecimentos comerciais pelo Brasil afora. Então resolvi entrar para apenas olhar o que tinha de interessante...
Vendedora: Nossa, mas que cara de sério!
Em meio segundo, pensei: "Mas que tipo de promotora de vendas aborda um potencial novo cliente de forma incisiva assim? Ok, ela provavelmente está tentando um quebra-gelo através da confrontação de uma característica saliente no consumidor. Como este estabelecimento é voltado para pessoas "mais jovens", a vendedora deve concluir que eu por ser um "tiozão", sou um "invasor" deste pequeno universo consumista e portanto, se julga no direito de ousar uma abordagem mais direta, com faria com seus usuais clientes na faixa dos 18-25 anos. Embora eu não pretenda comprar nada, vamos testar até onde vai a criatividade desta pessoa."
Eu: Mas eu sou sério.
Obviamente, não era a resposta esperada pela vendedora, o que a deixou extremamente desconcertada. Não sabendo lidar com a rejeição. Proferiu uma resposta padrão e recuou.
Vendedora: Noooossa! Desculpe, eu não sabia.
O "eu não sabia" tornou-se a desculpa padrão das gerações atuais. É uma forma de garantir auto-penintência e dar a si mesmo a posição de 'vítima' perante a própria falta de percepção e bom senso de uma ação anterior qualquer.
Continuei a olhar os modelos de relógios disponíveis, de forma curiosa e sem pretensão de compra. No meu pouco entendimento de vendedor mas no meu muito conhecimento como consumidor, o certo seria me deixar a vontade, até que alguma coisa me chamasse a atenção e eu solicitasse auxílio para uma eventual venda. Nessa situação, a infeliz vendedora ainda insistiu na abordagem me oferecendo alguns modelos "da moda" selecionados por ela.
Vendedora: Que tal esses modelos bem legais?
Eu: Obrigado, eu realmente estou somente olhando o que vocês têm aqui.
Vendedora: Não quer experimentar esse modelo aqui? Está super na moda...
Eu: Não, obrigado novamente, mas eu realmente vou somente olhar.
Vendedora (virando a cara, porém falando em um tom de voz que eu pudesse ouvir): Ah, eu desisto...
Preferi não criar caso. Era véspera de Natal e realmente acredito que o bem estar parte de cada um de nós, por isso preferi continuar olhando ao invés de tomar uma satisfação e iniciar um tremendo de um bate-boca, desnecessário diga-se de passagem.
Ora, sou um "senhor" com meus 43 anos recém completados. Não tenho pretensão alguma de usar relógios coloridos, de caixa grande e pulseiras chamativas. Ainda que eu mantenha meu espírito jovial e sempre disposto, eu não sou nenhum Herchcovitch que está intimamente ligado ao mundo da moda. Minhas escolhas são baseadas e princípios de beleza + praticidade + versatilidade. Roupas e acessórios que eu posso usar livremente em diversas situações e combinações sem parecer obtuso ou ousado demais. Coisas práticas, entendem?
Vendedor "Latino": Posso ajudar? O senhor procura alguma coisa específica?
Eu: Muito obrigado, estou apenas olhando os modelos. A maioria tem caixa grande, prefiro modelos com caixas menores e mais discretos.
Vendedor "Latino": Se importa se eu procurar alguns modelos e trazer aqui para mostrá-los?
Eu: Claro que não.
Ele me deixou calmamente olhando os modelos de relógios. Quando ele percebeu que eu tinha chegado ao fim das minhas opções, se aproximou de mim com mais 3 modelos diferentes. Todos eram bem legais, mas de fato nenhum havia me chamado a atenção. Agradeci cordialmente e, conforme havia dito (e graças a abordagem da primeira vendedora) terminei a visita na loja somente olhando os modelos.